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Educação está associada a todos os
comportamentos e hábitos, individuais ou coletivos. Mesmo assim, não há uma
correlação simples, direta e óbvia entre educação e corrupção. Países com
indicadores educacionais altos apresentam casos escandalosos e sistemáticos,
enquanto países com índices de escolaridade relativamente menores, por vezes,
têm históricos apenas pontuais e menos endêmicos. Guardadas as diferenças e
circunstâncias, não há, e provavelmente não haverá, nação ou setor da sociedade
totalmente imunes a essas práticas, as quais, demandam ser fortemente
reprimidas e condenadas, sempre.
A permissividade à
corrupção ou sua relativização (todos fazem ou sempre foi
assim), como sabemos, cobra um preço muito alto, especialmente na formação
cultural do indivíduo e da sociedade como um todo. O enfrentamento da corrupção
é um processo permanente no qual educa-se mais ou educa-se menos, a depender da
qualidade com que ele é desenvolvido. Se a pergunta acerca do quanto nos
educamos ao longo do processo não estiver presente, mesmo ações, em tese,
bem-intencionadas, podem, eventualmente, gerar resultados que se contrapõem às
próprias motivações que as geraram, piorando o quadro social a ser
transformado.
Educa-se quando na
divulgação dos processos em curso se ressalta a transparência, os avanços
obtidos e tem-se, como resultado, a consolidação das instituições e a
construção coletiva de novos patamares de honestidade. Não se educa, ou
educa-se mal, quando se prioriza o tom generalizante ou se estimula atos
persecutórios para satisfazer a ânsia irracional ou interesses imediatos,
desvalorizando a democracia e as instituições, piorando a percepção do
indivíduo sobre o meio em que vive.
Como apontado pela
pesquisadora Nara Pavão (https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2017/04/21/onda-de-corrupcao-gera-cinismo-politico-e-desmobiliza-eleitores-diz-pesquisadora.htm), o
pior resultado possível de um processo político é o aumento do cinismo, fruto
da conclusão generalizante de que, afinal, todos são corruptos, afastando os
cidadãos das boas práticas políticas e ampliando no dia-a-dia a sua tolerância
com toda sorte de comportamentos inadequados. A pesquisadora demonstra que
eleitores submetidos a uma sobrecarga de noticiários mais espetaculares e menos
analíticos tendem a entender a corrupção como uma constante, e não mais como
uma variável a ser considerada na hora da escolha no voto.
É compreensível,
ainda que nem sempre aceitável, que, do ponto de vista individual, um cidadão
esteja revoltado e, em certas circunstâncias, dê vazão aos seus instintos mais
irracionais, via generalizações inadequadas e desprezo pela democracia e por
quaisquer práticas coletivas e solidárias. A relativa tolerância com o
indivíduo não deve ser a mesma com os setores institucionalizados. Qualquer um
deles, incluindo o próprio judiciário ou os meios de comunicação, se examinados
com as mesmas métricas e ênfases que eles aplicam aos demais setores,
provavelmente, evidenciariam níveis de corrupção de mesma monta.
Não se trata de
favorecer a generalização que, indevidamente, absolve, mas sim da abrangência
plena que esclarece, aprofunda e educa. Da mesma forma, não se trata jamais de
deixar de fazer as coisas que devem ser executadas, como divulgar, averiguar e
condenar, mas fazê-las na abordagem e na amplitude que eduque, preparando a
todos para o exercício permanente e racional do combate sem tréguas à
corrupção.
Para o país, mais
relevante do que satisfazer os eventuais ódios momentâneos do presente é a
consolidação dos mecanismos perenes que motivem acreditar no futuro. Um sonho
educado e realista não é um mundo sem corrupção e sem corruptos; mas, sim uma
sociedade com instituições e processos que desestimulem, julguem e punam,
dentro dos marcos da lei, os infratores. Precisa, para começar, que todos
queiramos construir algo que assim seja e educação também tem a ver com aquilo
que se consolida, depois que estes momentos passam.
Ronaldo Mota - Reitor da Universidade Estácio de Sá