Na abertura do V Simpósio Internacional
sobre o Padre Cícero: "Reconciliação... e agora?", o bispo emérito da
Diocese de Crato, dom Fernando Panico, não escondeu o orgulho quanto à sua
ativa participação no processo que resultou na reconciliação do sacerdote.
“Aqui vim, também, como romeiro e Deus escolheu a mim para fazer a defesa do
Padre Cícero”, disse ele que é o presidente de honra do evento e foi o
responsável pela conferência magna de abertura na noite desta segunda-feira.
O auditório do Memorial Padre Cícero
acolheu um grande publico e abertura foi antecedida por apresentações
culturais. Dom Fernando fez um relato sobre todos os simpósios os quais
considerou “de interesse permanente e relevante” ao reunir pessoas e saberes de
diferentes áreas do conhecimento. No entendimento do conferencista, colaboram
para a compreensão mais aprofundada em torno dessa questão sócio religiosa de
Juazeiro “à luz da ciência e em busca da verdade”.
Ao historiar os fatos relacionados com
a transformação da hóstia em sangue na boca da beata Maria de Araújo, ele
considerou que o então bispo do Ceará, dom Joaquim Vieira levou sua versão para
o Santo Ofício como se fosse verdadeira. Como disse, por mais provas que a
comissão de inquérito apresentasse não o satisfazia ou convencia. Já nessa nova
etapa, lembrou o pedido do então cardeal Joseph Ratzinger e, depois, Papa Bento
XVI pela retomada dos estudos em torno da questão.
Foi quando dom Fernando constituiu uma
comissão de estudiosos de diversos lugares do Brasil e áreas do conhecimento
para compreender melhor os fatos “dentro de um trabalho honesto”. Na sua
conferência, definiu como dever cumprido no comando dessa responsabilidade.
“Aqui está o dedo de Deus na história de Juazeiro, do Padre Cícero, da beata e
do fenômeno das romarias”, observou acrescentando que, em 2004, o simpósio
igualmente promovido pela Universidade Regional do Cariri já tinha o apoio da
Diocese.
Para ele, significava o reconhecimento
da Igreja no âmbito local e avaliou como conseqüências o avanço das concepções
acadêmicas sobre a figura do Padre Cícero. Citou ainda a abertura plena dos
arquivos da Cúria Diocesana com mais de três mil documentos à disposição de
todos. Como definiu, o início do seu pastoreio em 2001 tratou de fazer justiça
aos romeiros no que diz respeito à sua devoção ao Padre Cícero, “os quais foram
chamados de fanáticos e hereges pela própria Igreja”.
Coube ao prefeito de Juazeiro, José Arnon
Bezerra, acolher os participantes e parabenizou a universidade considerando um
brinde ao município “quando atrai muitos que vem de longe nos ajudar a conhecer
melhor esse homem”. Ainda sobre Padre Cícero, destacou suas ações em nome da
educação, reforma agrária, geração de emprego, estímulo ao artesanato e a
preocupação com o meio ambiente. Já em nome do governador Camilo Santana, que
se encontra no exterior, o reitor da Urca, Patrício Melo, fez a abertura
oficial.
Em seu discurso comentou sobre a
preocupação da comissão organizadora instituída pela universidade no sentido de
reunir cabeças pensantes daqui e de fora para debater a temática. Para ele, a
história de Padre Cícero se entrelaça com a de todo o Cariri tendo sido
responsável pela mudança na história da região no início do século XX. Quem
também fez uso da palavra foi o bispo da Diocese de Crato, dom Gilberto Pastana
observando que o Padre Cícero é uma das raras pessoas jamais esquecidas após a
morte.
Como disse, 83 anos depois do seu
falecimento a lembrança é cada vez mais crescente “em virtude de todo esse
sentido histórico na cultura do povo nordestino, despertando o interesse da
comunidade acadêmica e da mídia em geral”. Na opinião do pastor, uma
personalidade rica, que tinha muita visão de futuro e das mais estudadas no
Brasil e exterior. Coube a deputada estadual Fernanda Pessoa representar a
Assembléia Legislativa e ao presidente da Câmara, Gledson Bezerra, representar
o poder legislativo municipal.