Foto: Armando Artoni |
O que significa sociedade líquida? Início este texto trazendo para
reflexão uma das teorias mais defendidas pelo sociólogo Zygmunt Bauman sobre a
sociedade atual, que, graças a um ritmo incessante das transformações,
vive com angústias e incertezas. Essa sociedade deu lugar a uma nova
lógica, pautada pelo individualismo e pelo consumo, resultado de
transformações sociais e econômicas, trazidas pelo capitalismo globalizado
Antes da metade do século XX, mais precisamente antes da revolução
tecnológica, viveu-se a modernidade sólida, o que pode ser entendido como um
período em que era possível planejar e criar metas a longo prazo. Hoje, é
preciso ser rápido, planejar a curto prazo, o que torna tudo inseguro e
passível de mudanças.
Ao contrário do que ocorreu durante o século XX, não se pensa mais a
longo prazo, não se consegue traduzir os desejos em um projeto de longa duração
e de trabalho duro e intenso para a humanidade. Os grandes projetos das novas
sociedades se perderam e a força da sociedade não é mais voltada para o alcance
de um objetivo comum.
Certa vez, li uma entrevista de Bauman que a sugestão da metáfora da
"liquidez" aconteceu para caracterizar o estado da sociedade moderna,
que, como os líquidos, se caracteriza por uma incapacidade de manter a forma e
se solidificar, o que acontecia através dos costumes tornando-se hábitos e, em
seguida, firmando-se como verdades “auto evidentes”.
Agora, a sociedade tende a permanecer em fluxo, voláteis, desreguladas,
flexíveis. Um exemplo simples dessa teoria é que quando estamos numa
relação estável, seja ela profissional, amorosa ou de amizade, na nossa cabeça
vem a ideia de que estamos perdendo as novidades.
Historicamente, tais mudanças sociais se iniciaram com
o renascimento, quando os ideais racionalistas começavam a ganhar força
diante do pensamento tradicional e ampliaram-se no decorrer do tempo,
tornando-se ponto de ruptura com as formas anteriores de organização social.
Na modernidade líquida a hospitalidade dá espaço à crítica,
questionando-se e refletindo-se sobre as ações e porquês das coisas. O
consumidor entra em conflito pela amplitude das escolhas que estão disponíveis
ao seu redor, a angustia da tomada de decisão correta frente às diversas
alternativas, a responsabilidade do indivíduo livre pela sua decisão e o risco
assumido, fazem o processo do consumo cíclico e interminável.
A vida instantânea parece uma viagem infinita com múltiplas
possibilidades a serem realizadas numa fração de tempo e na miniaturização dos
componentes para caberem mais em menos. Costuma-se dizer que o dia deveria ter
mais que 24 horas para fazer tudo que seria “necessário”. Atualmente as pessoas
já ecoam que será preciso mais de uma vida para realizar e obter o que desejam.
Autor – Janguiê Diniz – Mestre e Doutor em
Direito – Reitor da UNINASSAU – Centro Universitário Maurício de Nassau –
Fundador e Presidente do Conselho de Administração do Grupo Ser Educacional