O RÁDIO EM SILÊNCIO

O Jornal do Cariri desta semana traz um artigo bastante interessante que merece uma profunda reflexão de todos nós (radialistas), sobretudo que militamos no rádio do interior. Sob o título de “O rádio em silêncio”, o artigo de autoria do jurista e filósofo Josival da Silva aborda inicialmente o falecimento de colegas do Cariri para, posteriormente, chamar a nossa atenção sobre os direitos e garantias dos radialistas.
O RÁDIO EM SILÊNCIO
A frase bíblica “Deus escreve certo por linhas tortas” é conhecida por todos. Mas, embora correndo o risco de desapontar aos habituais leitores das singelas crônicas que escrevo neste espaço especial, declaro-me insatisfeito com “o acerto de Deus” no que pertine ao chamamento de radialistas em tão curto período para o seu Reino. Do dia 15 de julho de 2014, quando faleceu o emblemático Francisco Silva, o Foguinho, para o dia 24 deste caminhante fevereiro de 2016, quando faleceu o querido radialista e publicitário Enoque Silva, o rádio caririense perdeu seis valorosos profissionais, a saber: Francisco Silva, o Foguinho; Bosco Alves; Beto Fernandes; Nadier Martins; Wellington Oliveira e Enoque Silva.
Se estabelecermos uma média estatística mensal em face das defunções, alcançaremos a assustadora cifra de uma morte a cada três meses. Mas, é ainda mais apavorante constatar que, em números reais, só no mês de fevereiro deste 2016 três radialistas perderam a vida. Quando nos declaramos insatisfeitos com os “acertos de Deus”, não flui, por óbvio, à mente deste rude escriba, pretensão de questionar os desígnios do Senhor. Até porque as determinações Divinas situam-se fora da esfera competencial da laicidade.
Em momentos assim sempre nos ocorrem pensamentos diversos, uns com acertos, outros, nem tanto. Faço, nesse passo, alguns questionamentos em torno do exercício da profissão de radialista. O faço sem outro interesse, senão o de despertar a categoria para possíveis direitos negados, jamais questionados. Por exemplo: Radialistas têm plano de saúde? Radialistas têm espaço de lazer garantido para si e sua família? Têm assessoria jurídica? Radialistas têm os seus direitos trabalhistas respeitados? Existem cursos periódicos de reciclagem para eles?
Pelo que sabemos, alguns dos profissionais do rádio recém-falecidos padeciam de enfermidade de alto risco. Tiveram a cobertura adequada, permanente, em face do plano de saúde da categoria? Essas questões precisam ser debatidas. Em que estágio anda a discussão dos direitos e garantias individuais dos valorosos profissionais do rádio? Não cogito liderar a classe, onde militam antigos decanos, mas tão só lembrá-los que o radialista vem antes e o rádio, depois.
Certa feita, li num mural da antiga Rádio Uirapuru de Fortaleza a seguinte frase: “Nenhum veículo é tão atual e presente quanto o rádio”. Mas, o rádio não tem voz, nem opinião próprias. A voz do rádio é a voz do radialista. É o radialista que dá impulso ao rádio, que o coloca na posição de destaque e imprescindibilidade. Nem o advento da televisão esmaeceu o rádio. Enquanto informador e, principalmente, formador de opinião, o radialista é agente social da maior importância no contexto social onde atua. A sua postura ética é cobrada e sofre vigilância constante da sociedade. Qualquer passo em falso dado pelo radialista, é criticado com veemência pela massa social que o acompanha.
Em contrapartida, a atuação escorreita do radialista através de crônicas e críticas isentas de paixão ou qualquer outra manifestação, é prontamente assimilada pelos seus ouvintes. O radialista evolui por si próprio e, não raro, por sua postura “carrega nas costas a emissora de rádio onde trabalha”. Quantas vezes presenciamos o ouvinte de rádio afirmar: “O locutor da rádio tal disse que isso é certo.....ou errado”? Quer dizer, o locutor é paradigma para o fazer ou deixar de fazer da comunidade onde moureja. Digo: “Radialistas são filósofos da vida que a morte eterniza”.

Josival da Silva - jurista e filósofo

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